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Monday, January 29 | 1:43 PM

café entre um perfume e outro


finalmente!
um dia cinza. chuva levada a vento.
o perfume da terra e do asfalto molhados.
friozinho. mesmo que de leve.
perfeito para um café.
pouca iluminação. para mim, o suficiente.
nada de luz em excesso rebatendo pelas paredes e pelo concreto e atingindo meus olhos em cheio. a luz ideal para dar brilho e contraste suficientes aos detalhes do meu caminho.

o pessoal, digo... a maioria das pessoas, adora aqueeele sol.
ah! por favor!
deve ser porque têm as portas da percepção muito mal acabadas.

dia cinza é bom.
é quando descanso os olhos depois de uma longa sequência
(bom, a trema fugiu do teclado)
de dias que passam em branco, no mais ofuscante branco.
de qualquer forma ainda uso meus óculos de sol.
causam-me alguma sensação.

nada é perfeito.
o dia agora vai se abrindo.
sorte que já é um pouco tarde.
pois a noite vem e o salva.
no fundo, no fundo, não deve existir lugar com clima ideal.
aposto que aclamo esses dias sem sol justamente devido a dias sofridos debaixo das lentes dos óculos, restringindo meus percursos às sombras das árvores e marquises.

eu devo, mesmo, é ser do contra.
até meu alívio é controverso: passar as noites em claro.

fato é que noite nenhuma tem valor sem distantes luzinhas amarelas e brancas permeando a escuridão.
sobre o dia, permita-me dizer o mesmo, só que com mais convicção. dia nenhum tem valor sem as sombras.

são um intervalo à percepção.

um dia de terra e asfalto molhados.
é como cheirar café entre um perfume e outro.



para contrastar e sentir os contrates da vida.

3 subterfuga(s):
()
Blogger Carolina disse...

Sim, sou dos que gosta de sol!
De sol e de chuva.
Nunca fui do meio termo, assim como os dias simplesmente cinzas não me dizem muito.

Mas sobre a noite acho que concordamos. E, aquele dia, não passou nenhum carro tocando axé!

Blogger guim lambret disse...

faltou mencionar q minha preferencia de dias cinza a dias de sol...é na verdade de dias cinza ESCURO (cinza 50% pra cima hoho) a dias de sol... de preferencia frio e chuvinah esporádica :p~~

Blogger MaxReinert disse...

...o que seria do escuro se não fosse o claro?


parabéns pelo Blog... belo texto!

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Saturday, January 27 | 4:36 PM

mesologia


era vez uma cobra.
a cobra era cinza.
tinha 35 centímetros.
era cega.
vivia na terra.
no morro.
no lago.
um dia aventurou-se.
foi dar uma volta no cimento.
na calçada.
no grande equitativo centro para humanos.
aquilo não era normal.
uma cobra cega passeando em meio às lajotas.
logo foi percebida.
logo foi perseguida.
olhada.
examinada.
chegaram a uma conclusão sobre a cobra.
aquele não era seu lugar.
havia duas coisas a fazer.
removê-la.
e recolocá-la.
nesse ponto, ela deu sorte.
achou bons seres.
iriam devolvê-la a um lugar seguro.
foi difícil pegá-la.
ninguém queria tocá-la.
enojados nojentos.
tentaram a vassoura.
a pazinha.
uma sacola.
por fim puseram-na à margem de um lago.
aí surgiu o problema.
outros seres humanos.
disseram-se donos do lago.
o lago é dos humanos.
e lá cobra nenhuma faz buracos.
nem cobra cega.
nem pequena.
nem nada.
é animal.
pode machucar.
"não conheço.
por isso tenho medo.
o que temo, eu mato".
paulada na cobra.
paulada na cobra.
paulada na cobra.
morte à cobra.
a cobra morreu.
a culpa foi minha.
entretido enquanto escrevia.
nem percebia ser humano demais.
sem ficar sabendo da cobra o passado.
criei arruinado, comprimido e em comprimidos, o seu futuro.
mal ela sabia.
quando rastejou pelo quente e áspero pavimento da civilização.
aquele seria o último lugar que sua cegueira contaminaria.

1 subterfuga(s):
()
Anonymous Anonymous disse...

Te admiro.

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Tuesday, January 16 | 6:55 AM

espreme, espreme, espreme... e nada.
nenhum eflúvio de consolo, nenhum sinal de mudaça.
Não queria parecer monstro nem criança.
O fato é que estava entre o lúdico e o surreal segurando uma balança, sem ousar confrontar um e outro, pois aí seria pajelança; e das bravas.
O sortilégio, que não tinha nenhuma graça, era viver a fabulosa aparência de um falso mundo, como em um globo de neve, ou viver a farsa fabulosa de um mundo ilusório...assim...como num globo de neve.

Mas ninguém apareceu e fez a dança que despejaria neve em Nova Iorque e encheria os lares com ares de esperança.
Ninguém pra forçar a balança. Tal qual uma estátua de alguma liberdade, permaneceu imóvel e em silêncio, com extrema habilidade, camuflando seu grilhão. Entretanto, aguçando-se bem a percepção, ficaria claro que, quieto e por dentro, o chorrilho de lágrimas
inflava algum dilúvio, uma outra enxurrada causadora de nada e ainda infundada.
Mas motivo sempre se acha pra figurar uma farsa e forçar a barca pr'um bravo novo mar.

Ainda bem que ninguém percebeu que a perpécia sou eu, com o globo na mão, mantendo a neve no chão como se estivesse assentando o terreno ou repousando, cansada, a mão de um gigante.

...

Nas noites de lua cheia, narraram-me os lobos, as bruxas realizam a cerimônia que põe alguns contentamentos em questão.

...

Só eu percebi que sem bruxaria não haveria erupção.

Estico o braço então, e pego a lua em minha mão.

Lá dentro, efurnadas em crateras, as borboletas noturnas realizam a sessão.

Julgam a revelia da vida a minha satisfação.
Julgam, a revelia da minha satisfação, a vida.
Julgam, a revelia da vida, a minha satisfação.
Julgam a minha satisfação da vida a revelia.

E tremendo diante da idéia de o meu aprazimento, na lua, estar sendo julgado a revelia, arremessei com pressa o globo aos céus.
A força da pressa fez estardalhaço e sacudiu a poeira estelar que havia por lá.
As bruxas, então, fizeram a airosa dança em gravide zero, parecendo flocos de neve serenamente pairando no vácuo.
A mancha de névoa estelar, que fez alguns olhos atentos luzirem e parar, despejou algo novo que, por cá, há eras não se via.

Àquela nova sensação, deram o nome de alegria...
...mas era a mera fantasia.

1 subterfuga(s):
()
Anonymous Anonymous disse...

... instigante!!!
bastante instigante estes escritos...

... voltarei!

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